Translate

domingo, 28 de março de 2010

"C'est la vie"

Num mergulho raso no sul da Bahia, eu e minha minúscula câmera sub descartável fomos para debaixo do barco, e olha só o que encontramos! Um peixe Frade, ou Parú (Pomacanthus paru), que de tão curioso, quase me deu um beijo. Este é um peixe típico dos recifes de corais, onde realiza a limpeza do ambiente recifal e das brânqueas de seus "clientes". Este aí foi logo embora quando percebeu que eu não era nenhum pisciforme, muito menos um coral raro.
Me lembro desse dia como se fosse a cinco minutos atrás. Sentada na Pedra do Arpoador olhando os últimos raios de sol varrendo as areias de Ipanema. Sublime e até poético. Queria ali ficar, dia e noite, observando as mudanças da maré e do humor do tempo. Com a câmera na mão, nem pensei duas vezes. Cliquei.
Será assim o nascimento das estrelas, explodindo em mil cores? Se fosse, teríamos milhões de novos planetinhas pairando nos céus da Praia do Forte agora. O ano novo começou assim, sem flash ou qualquer outro artifício (a não ser o dos fogos), pura emoção!
Curiosa essa nossa casa, não!? Emprestei a foto da National Geographic. É....a viagem ao espaço sideral definitivamente não está nos meus planos. Nunca esteve. Já passo mal com ar rarefeito, imagina lá em cima, que nem oxigênio tem (pelo menos não na forma livre como na Terra). A viagem ao espaço já é uma realidade da engenharia. A partir de 200.000 dólares qualquer milionário excêntrico pode passar curtas "férias" lá em cima. Mas, para quê? Massagear o ego ou sucumbir a um desejo infantil? Excentricidade para mim é não pegar esse dinheiro todo e ajudar milhões de crianças passando fome no mundo e refugiados de guerras civis "esquecidos" por aí. É isso.

Ultimamente o trabalho não tem me permitido viajar como gostaria. Mas sem ele, como viajar? Eis a questão. Pelo menos a memória aqui vai muito bem, obrigada. Se a vida me proporciona vivenciar coisas e lugares tão interessantes, então é meu dever compartilhar. Afinal, a verdadeira viagem é a vida. Isso eu sempre soube. Os lugares por onde andei, as pessoas que encontrei, as situações que vivi... e olha que isso não é nada, comparado a notórios viajantes que conheço. Lugares tão distintos, cada um com sua beleza, sua história, nenhum mais ou menos importante que o outro. "C'est la vie"! Tantas palavras, imagens, sabores, lembranças. E as fotos? Ativam a memória esses espelhos do mundo. É verdade, o tempo corre solto e às vezes nos leva a mundos imaginários, até mesmo em sonhos. Mas entre realidades e incertezas, sempre soube voltar ao meu lugar, de uma pessoa emocionada com a vida e disposta a aprender com as experiências. Errar agora para acertar depois. Enquanto isso, vou aqui trabalhando. Trabalhando e planejando onde será minha próxima aventura, viagem, caminhada, nem que seja ali na esquina ... se o tempo é curto.

domingo, 21 de março de 2010

Vento Sul

(Teatro Carlos Gomes em Blumenau. Veja bem se não parece com os jardins franceses!)
(Detalhe de uma janela típica da Vila Germânica em Blumenau. É lá que acontece um dos principais eventos da cidade, o Oktoberfest, em outubro. É considerada a maior festa alemã fora da Alemanha, sendo a segunda maior Oktoberfest do mundo, perde somente para Munique, é claro! Acontecem as danças típicas - Tanzgruppe - e os grupos de tiro - Schitznverainen. Eu estive lá em pleno verão e portanto perdi esta festa, acredita!?)
(Só um pedacinho de Blumenau já é de tirar o fôlego! A foto é do site oficial da prefeitura, belasantacatarina.com.br. A cidade de Blumenau teve início em 1850, quando imigrantes atravessaram o oceano atlântico em seus veleiros em busca de novas terras. Ah, essas aventuras épicas... são bem típicas do sul do Brasil...)
( O bondinho de Camboriú faz o trajeto da praia das Laranjeiras até o morro. De lá se tem a melhor vista do litoral catarinense todo recortado com praias, lagoas e mata atlântica. Qualidade de vida? Estás brincando... Foto de Mauro Goulart) (A Lagoa da Conceição em Florianópolis é encantadora mas, infelizmente, o assoreamento das margens a deixou com pouca profundidade. Além disso é preciso ficar de olho nos relatórios de balneabilidade antes de entrar na água. Peguei emprestada a foto de Mário Costa. Perto dali, ao redor da avenida das rendeiras tem várias lojinhas tradicionais de "Renda de Bilro", tudo feito à mão com o maior capricho. Pena que não dá pra levar tudo que se vê, já pensou no excesso de bagagem? Mas que dá vontade, dá!)
(Praia da Joaquina, com ondas fortes, os surfistas adoram. Diz a lenda que Joaquina foi uma rendeira do século XVIII que ficava ali entrelaçando suas linhas e preparando comida para os pescadores...até que um dia, enquanto tecia renda na praia, veio uma onda enorme e a levou para o mar, e nunca mais foi encontrada. Com a fama de ondas fortes, aos poucos os surfistas foram chegando e hoje são realizados ali vários campeonatos importantes do circuito. Esta foto é de George Hamilton)
(Mapa de acesso a Blumenau, Florianópolis e Camboriú. O avião desce no aeroporto de Navegantes para quem quer se hospedar na praia, em Camboriú, ou no interior, em Blumenau. Se for ficar em Florianópolis, o aeroporto é Hercílio Luz)


A região sul é mesmo surpreendente! Como pode um país ser tantos Brasis ao mesmo tempo? Quando fui para Santa Catarina, pensei que só encontraria cidadezinhas tipicamente colonizadas por alemães e italianos. Realmente encontrei algumas, mas o estado é muito mais que isso. Tem praias maravilhosas, montanhas e uma população que parece viver na "Terra da Felicidade". Em Blumenau é como se você estivesse no interior da Europa, pois a cidade esbanja seu charme pelos poros. Os restaurantes alemães estão por toda a parte. As Delikatessens, com seus doces típicos, vinhos e licores, Apfelstrudel, Dampfnudeln (o famoso pão alemão), são absolutamente necessárias! Impossível também resistir às charmosas cafeterias climatizadas com seus incríveis aromas de café. A cidade herdou o nome do filósofo alemão - Hermann Otto Blumenau - que em 1850 estabeleceu ali uma colônia agrícola com imigrantes europeus. Depois vieram os poloneses e por fim os portugueses. A produção de cervejas artesanais foi um dos costumes trazidos da Alemanha que permanece até hoje. Visitei o Museu da Cerveja, bem legal. Pena que lá dentro estava escuro e as fotos não ficaram boas... Algumas cervejarias são bem conhecidas na região, como "Bierland", "Borck", "Das Bier" e "Schrnstein". Para quem ADORA umas comprinhas, prepare-se: em Blumenau fica a famosa fábrica de malhas Hering, onde você pode achar de tudo a preços inacreditáveis! E os cristais? As fábricas de cristal são um sonho (também existe um museu do cristal lá)...tudo é produzido artesanalmente na base do sopro, uma obra prima! Na cidade há duas opções: a "Cristal Blumenau" e a "Glas Park Cristal". A apenas 143 Km dali estão algumas das praias mais famosas do país, como a Jurerê e a Joaquina, em Florianópolis. Esta última é point obrigatório para surfistas do mundo inteiro. As ondas batem forte nas pedras, o que deixa um ar selvagem na praia em dias de ventania. A praia de Jurerê, na parte norte da ilha de Floripa (para os íntimos), já é bem mais calma, com apenas 3 Km de areia fina, é onde se encontra gente bonita e de bem com a vida. Subindo o mirante tem-se uma visão linda da Lagoa da Conceição, a maior da ilha. Esportes aquáticos são o forte por ali, como windsurf, vela, kite surf e caiaque, além de asa delta e para pente. Para quem é mais 'pé no chão', tem inúmeras trilhas ecológicas para passeios à pé ou de mountain bike. É sempre bom lembrar que a região está bem próxima do Pólo Sul e, em dias claros de verão, a incidência do sol ali é bem forte, com seus raios ultravioleta a todo vapor! Portanto, meu caro, imprescindível o protetor solar. Bem perto dali fica o Balneário de Camboriú, com suas praias maravilhosas. Mas se você quer sossego, é bom evitar a alta estação até os meses de março e abril, pois há um aumento expressivo da população, sobretudo de paraguaios, argentinos e chilenos. Aliás, o que que mais se vê são placas de carros desses países estacionados nos lugares mais badalados! Para quem tira férias fora dessa época, é tudo de bom. Pegando o bondinho na praia das Laranjeiras, você tem uma vista magnífica do litoral catarinense! Andar à noite pela orla da praia central de Camboriú também é uma tentação. São diversos restaurantes e barzinhos de todos os tipos. Ali é possível saborear uma deliciosa casquinha de siri a preços irrisórios. Provei e amei!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Luz do Sol... Luz da Lua

( O sol nascendo faz acordar um Atobá, pronto para começar sua jornada de caça ao peixe no mar)
(Uma tempestade se formando na ilha Siriba. Mas o mar continua com seu azul piscina e águas mornas, convidando a um mergulho)
(Parte da ilha Redonda que serve de ninhal para as Fragatas , outra ave marinha. As pedras da praia são resultado da formação vulcânica das ilhas)
(Atobá mãe protegendo seu filhote no alto da ilha de Santa Bárbara. A vegetação rasteira é típica dessas ilhas, onde não há sequer uma árvore, nem água potável.)
(Casal de Atobás curiosos com essa maluca por ali logo nas primeiras horas da manhã)
(Farol de Abrolhos na ilha de Santa Bárbara no final do dia, já quase sem luz)
(Fiquei nas pedras um bom tempo olhando o infinito e as mudanças da maré na única prainha ali em frente)



Quando morava em Prado - Bahia, fui a Abrolhos várias vezes. É um arquipélago formado por 5 ilhas no meio do oceano. Voltarei a falar mais de Abrolhos em outro post no futuro. Mas é que hoje acordei iluminada, sabe como é?! Os primeiros raios de sol da manhã no fundo azul do céu me inspiraram. E olha que estou agora no meio de uma cidade imensa, cercada de prédios, a anos luz do mar. Mas, desta natureza de concreto, consegui abstrair apenas o sol, que me fez viajar novamente lá para a ilha de Santa Bárbara, em Abrolhos. Naquele ano foram dias e dias seguidos vendo sol nascer no mar com a manhã, depois ir embora do outro lado da ilha, e a lua surgir borbulhando na água até alcançar o céu. O único meio de comunicação do pessoal da ilha com a terra firme é através do rádio-farol, já que não há telefone e nem luz elétrica. O farol de Abrolhos foi construído na França e inaugurado ali em 1861, ainda durante o reinado de D. Pedro II. Até hoje é mantido pela marinha do Brasil, única população residente na ilha, cerca de 5 famílias, além de pesquisadores e voluntários ocasionalmente. Pena que tirei esta foto bem na hora que o barco balançou e apareceu a "sombra" da grade lateral. Foi nessa que quase perdi minha câmera! Passei quase 4 meses no arquipélago, durante a temporada de verão, com algumas idas e vindas à terra firme. Chegar lá é fácil: pega-se uma escuna, ou lancha, ou veleiro, que sai de Caravelas diariamente. Há vários passeios turísticos de um a três dias. Também há boas agências especializadas neste tipo de passeio, como a "Abrolhos Turismo", já que Caravelas vive disso. A cidade, uma das mais antigas do Brasil (1581), fica a 36 milhas náuticas do arquipélago. Dependendo do tipo de barco, a viagem pode ser curta ou longa, com ou sem emoção. A opção mais rápida é de lancha, cerca de duas horas e meia. Ah, se você enjoa fácil com o balanço do mar, é melhor se prevenir antes, já que no meio do caminho não dá mais para voltar. Mas logo, logo, com aquela visão do oceano Atlântico, você esquece (quase) tudo que ficou para trás. Ao final do dia, sem mais trabalho ou pesquisa a fazer, eu pegava minha câmera e ía para o ponto mais alto da ilha registrar as várias nuances do pôr do sol. Fazia isso todos os dias como um relógio, era um prazer incalculável! Só lamento não ser uma fotógrafa de verdade....essas minhas fotos de papel (que depois tiveram que passar pelo scanner para colocar aqui) não chegam nem aos pés do visual ao vivo e a cores. Pelo menos essas imagens estão na minha memória para sempre. Às vezes tinha a companhia de um atobá (ave marinha) afoito querendo voltar ao ninho. Quando escurecia, era a lua minha companheira, e com ela vinham os pensamentos de longe, bem longe. Pego aqui emprestado de um filósofo o mesmo pensamento meu. Concordo que a vida é uma caixinha de surpresas. Muitas vezes fazemos coisas que nos vêm à cabeça (pura intuição?). Outras vezes pensamos tanto, mas tanto, que o tempo passa e nada fazemos. Realmente...como dizia o filósofo: Se Freud fosse poeta, em vez de falar em consciente e inconsciente, diria: Nós, assim como a Terra, somos iluminados ora pelo Sol, ora pela Lua. Com o sol, o mundo brilha e nos enche de cores e formas, além de nos fazer trabalhar. A luz suave da lua é cheia de sombras e dúvidas, mas é sob essa luz que amamos. Agora, cá entre nós....que sorte a Terra estar sempre girando para captar essas luzes tão distintas, senão o que seria de nós?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Navegar, viajar, divagar....

(O nascer do sol na Costa do Descobrimento é algo pra ficar na memória eternamente! Foi lá no mar pré histórico que tudo começou e onde está o nosso futuro e o futuro do planeta.)
(No meio do caminho uma parada para tomar água e refrescar a memória. Uma parada que remete à lendária via férrea Bahia-Minas. O jegue aí no coqueiro ajuda na travessia dos mais cansados, ou que já estão com os pés em petição de miséria e querem socorro.)

(A famosa casa de coral na praia, a caminho de Corumbau. Será que ainda está lá? Será que a tempestade destruíu? Será que o mar já levou, reclamando o que era seu de fato? Preciso voltar lá um dia e averiguar. Faz parte de meu diário de bordo.)

(Quando passei por este manguezal, já estava quase anoitecendo. Pensei que a foto nem ía sair direito. Saindo de Caraíva, com a maré baixa, as nuvens vão se acotovelando umas às outras, anunciando aquela chuva típica de verão. E depois, com o céu limpo de novo, outra visão: a lua, linda de morrer! É a noite avisando que é hora de dar um descanso para os pés.)


Navegar é preciso....Fernando Pessoa estava certo. Mas vou um pouco além: viajar é preciso! Viver todas as experiências que as viagens nos levam. Carregar as lembranças na memória, nas fotos, nos diários de bordo. Sem fazer grandes planos, apenas viajar. Existe coisa melhor? Ser capaz de navegar por mares, culturas e continentes até em pensamento é um privilégio. Ainda bem que meu trabalho como bióloga me permite desvendar tantos outros lugares que jamais imaginaria ir por conta própria. Também vou longe nas aulas que dou sobre meio ambiente. Certa vez, fazendo um trekking por Cumuruxatiba, sul da Bahia, me deparei com uma ponte feita de cipó e madeira que ligava um pequeno riacho na parte de baixo na praia até lá no alto da falésia. Impossível não registrar esta imagem! Morava ali um velho homem que, impedido de morar em sua cabana na areia (construída por ele, com corais tirados do fundo do mar. Proibido por lei!), fez da ponte sua única ligação com o mundo exterior e foi morar lá do outro lado. Infelizmente não foi possível conhecê-lo. Ele não quis nos receber. Entendo....mas fico pensando, o que faz alguém se desligar do mundo, pelo menos em parte, e se refugiar no seu mundo particular? Bom, cada um tem sua história, seus mistérios. Eu não me canso de sentir novos aromas no ar, folhas, incenso, espuma do mar. Conhecer novas comidas, caminhos, sorrisos. Nem todos os caminhos são fáceis, é verdade. Mas qual seria a graça? Na Bahia tive que atravessar rios à pé, na maré baixa, e de canoa, na maré alta. Subir e descer as muitas falésias do litoral baiano (vendo tudo lá de cima, dá vontade de ir cada vez mais longe, até onde a vista não alcança). Passar por áreas de manguezal, com lama nos pés e inúmeros caranguejos assustados. Dá para sentir que você realmente faz parte deste mundo! Acho que me adapto fácil a qualquer lugar, situação, recurso. Habito terras sem fim, viajo para fora e dentro de mim. Como é bom ser livre na alma. Meu porto seguro é onde eu estou. Dar a volta ao mundo? Não é este meu objetivo. Não é minha pretensão conhecer todos os lugares do planeta mas, essencialmente, aqueles que valem à pena, e muitas vezes não estão nem nos guias de viagens ou indicações turísticas. Esses sim, merecem ser descobertos!